05/07/2007

SOS Terra - Irmã Rose Fernando

Além-Mar
Maio 2001

Excertos



A Terra corre perigo, e com ela todas as maravilhas da Criação. A actividade humana produziu efeitos irreversíveis na água, nos mares,
nos gelos, nos solos, nas florestas; e tem vindo a acelerar a extinção de animais e plantas, que estarão a desaparecer a um ritmo de 27 mil espécies por ano. No dia 19 de Abril, quando se assinalou um pouco por todo o Mundo o Dia da Terra, não havia razões para festejar: os Estados Unidos da América acabavam de se desligar do protocolo de Quioto,
uma pouco ambiciosa mas pioneira tentativa de reduzir as emissões dos gases responsáveis pelo efeito de estufa. E a sua acumulação na atmosfera que está a causar o aquecimento do clima e, paralelamente,
catástrofes naturais cada vez mais frequentes.
SOS Terra! É tempo de parar, escutar as suas queixas, olhar as suas e as nossas feridas. Porque é urgente reflectir, educar e agir.



Equilíbrio ecológico: desafio do século XXI

A crise ecológica põe em risco a humanidade no seu conjunto. Enfrentá-la implica agir depressa, e a vários níveis. Sem esquecer que o equilíbrio ambiental é impossível numa sociedade global profundamente desequilibrada pela injustiça.A crise que o mundo atravessa neste princípio de século e de milénio é a primeira à escala global que a humanidade enfrenta. Ao mesmo tempo espiritual, social e ecológica, tem a sua origem em rupturas que alastram a todas as dimensões do ser humano: no corte de relações com Deus, connosco próprios, com os outros e, cada vez mais, com a Natureza.
Foi nos anos 60 que se começou a falar e a escrever sobre a necessidade de defender o meio ambiente. Quatro décadas volvidas, tornou-se óbvio que se trata de uma questão de sobrevivência – dos animais, das plantas, mas também do Homem. E que não é possível abordá- la separadamente: o equilíbrio ecológico é impossível numa sociedade global profundamente desequilibrada pela injustiça.
Um esforço sério para proteger o meio ambiente e para promover o desenvolvimento dos povos que foram expulsos do banquete da sociedade de consumo não será possível sem uma profunda reforma das estruturas que alimentam a pobreza e a exclusão de dois terços da humanidade. A promessa de um novo céu e de uma nova terra mantém-se. Mas só se cumprirá se estivermos preparados para reatar as relações que negligenciámos.
O planeta Terra não poderá suportar durante muito tempo os nossos actuais padrões de consumo. Há cerca de 60 anos, a população mundial era de 1,6 mil milhões. Hoje, já ultrapassámos os seis mil milhões. E, segundo as projecções das Nações Unidas, no ano 2050 atingiremos os nove mil milhões. A Terra pode parecer-nos imensa, mas os seus recursos são finitos. Há meio século, Gandhi dizia: «Há que chegue para as necessidades de todos, mas não para a ganância de toda a gente.» Entretanto, em precisamente 50 anos, consumimos mais de 50 por cento da água potável e das reservas de energia do planeta, e destruímos mais de 50 por cento das suas florestas. A situação precária em que nos encontramos é em grande parte atribuível a um excesso de consumo. De que são responsáveis os 20 por cento que vivem nos países desenvolvidos, e não os 80 por cento de pobres que habitam em dois terços do globo: somos nós, os ricos, que gastamos 86 por cento dos recursos mundiais.
Os grandes defensores da economia de mercado livre parecem ignorar o que se passa com esta esfera azul que nos assegura a vida. Por isso promovem o consumo desenfreado, o usa e deita fora, esquecendo-se que quatro quintos da população mundial não dispõem de meios para satisfazer as necessidades básicas, destruindo o meio ambiente e comprometendo a subsistência das gerações futuras.
Na encíclica que dedicou à vida, João Paulo II enumerou os vários aspectos da cultura da violência e da morte em que estamos mergulhados, e referiu especialmente a opressão a que ela sujeita a humanidade e a Criação no seu conjunto. A dimensão dos atentados é bem dada por Thomas Berry no livro O Sonho da Terra: Estamos a interferir à escala geológica e biológica. Mudando a química do planeta, alterando os grandes ciclos da água, saturando o ar e o solo de produtos tóxicos, a tal ponto que não poderemos jamais restituir-lhe a sua pureza original. Estamos a transtornar todo o ecossistema terrestre, que, ao longo de milhares de milhões de anos, produziu uma tão magnífica parada de formas vivas. De caminho, estamos a fazer desaparecer milhares de espécies – pássaros, peixes, insectos, répteis, vertebrados e mamíferos; plantas, árvores, árvores de fruto… Segundo E. O. Wilson, um biólogo de Harvard, todos os anos desaparecem 27 mil espécies.
As formas de violência são inúmeras. Neste preciso momento, 34 conflitos regionais semeiam a devastação entre os seres humanos, mas também na Natureza. Não só a guerra mata e devasta. As instituições financeiras internacionais, entre as quais avultam o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional ou a Organização Mundial do Comércio, propagam a violência institucionalizada própria de uma cultura económica violenta, um conflito velado mas generalizado que faz com que os vencedores – os ricos – fiquem mais ricos e os vencidos – os pobres – cada vez mais pobres. Pelo simples facto de promoverem as monoculturas nos países do Sul, estão a semear a degradação ambiental e a afectar a biodiversidade.
A destruição do ambiente atinge em primeiro lugar as mulheres e, sobretudo, as mulheres pobres dos países pobres: São as mulheres quem mais sofre quando não há água limpa para beber, quando falta o combustível e um meio salubre. Porque sabem o efeito que isso tem sobre as suas famílias, percebem melhor como o equilíbrio natural é precário, escreveu a teóloga Aruna Gnanadason.


Educar é preciso
Passar de uma irresponsável indiferença a uma política consciente que difunda uma justiça ecológica diz respeito a cada um dos seis mil milhões viajantes da «nave Terra». Para que a viagem prossiga, há que pensar que a maior parte dos povos ricos consome como se não existisse um amanhã. E que os pobres, levados pela intensa publicidade difundida até ao mais remoto recanto do planeta, tendem a seguir-lhes os passos. A tecnologia transformou por completo os padrões dos países industrializados, a nível do trabalho e da família, mas também no campo da comunicação, do lazer, da alimentação e da saúde, e transformações semelhantes estão em curso nos mais prósperos países em vias de desenvolvimento.
Um relatório recentemente publicado por um conjunto de 700 cientistas mostra que a situação é bastante mais grave do que há uns tempos se poderia prever. Segundo o documento, a temperatura do globo poderá subir até 5,8 graus ao longo deste século, e alguns dos ecossistemas já estão a dar o alerta: a camada de gelo que cobre o Árctico «emagreceu» cerca de 42 por cento; a degradação ambiental está na origem de catástrofes naturais de dimensões cada vez maiores e cada vez mais frequentes. Se não se reduzir desde já a emissão dos gases que causam o efeito de estufa, o aquecimento global poderá custar à humanidade qualquer coisa como 300 mil milhões de dólares/ano durante o próximo meio século. Ou seja: se os líderes internacionais não agirem de imediato, a economia global poderá vir a sofrer um grave abanão; calcula-se que as catástrofes naturais tenham causado, só na última década, prejuízos da ordem dos 608 mil milhões de contos.
Proximamente, haverá duas excelentes oportunidades para agir e consciencializar a opinião pública internacional: a Organização das Nações Unidas para as Alterações Climáticas vai reunir-se em Bona, na Alemanha, durante o mês de Julho; e, em 2002, será debatida e eventualmente adoptada pela ONU a Carta da Terra.
Porém, a chave da mudança reside na educação: formar é transformar. Porque há pessoas com um elevado nível de educação que, na realidade, são ignorantes em matéria de crise ecológica. Porque há outras que, apesar de bem informadas, se recusam a mudar o seu estilo de vida. Há grandes teólogos e grandes especialistas em espiritualidade, psicologia e sociologia que não percebem a urgência da tarefa. No seio das próprias comunidades religiosas se têm evitado ou adiado opções ou manifestações que envolvam riscos e mudanças estruturais. Os missionários, que reconhecem a necessidade de repensar à luz dos nossos dias o seu papel no mundo moderno, têm de admitir que a ecologia é parte integrante da sua missão.



segue: SOS Terra (cont.) Aquecimento do clima: catástrofe global

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