05/07/2007

SOS Terra (cont.) - Irmã Rose Fernando

Além-Mar
Maio 2001
Excertos



Aquecimento do clima: catástrofe global

O clima está a aquecer. Calcula-se que, até ao final do século, a temperatura média poderá aumentar até 5,8 graus. As catástrofes naturais tornar-se-ão então a norma,nações inteiras acabarão por desaparecer.

Durante muito tempo, os cientistas hesitaram. Como os ciclos climáticos são longos e dependem de uma inúmera e extremamente complexa série de factores, acreditavam estar a assistir a um aquecimento global, mas não sabiam se deviam atribui-lo a causas naturais, que o Homem não poderia portanto alterar, ou à intervenção humana, e consequentemente passíveis de correcção. Ultimamente, porém, gerou-se um consenso na comunidade científica. Já se sabe que o globo está de facto a aquecer, e que esse aquecimento terá efeitos desastrosos para a humanidade, se a comunidade internacional não agir depressa e concertadamente.
As previsões até pioraram. Calcula-se agora que, até ao final do século, a temperatura média à superfície poderá aumentar até 5,8 graus, e sabe-se que tanto mais subirá quanto maior for a acumulação na atmosfera dos gases responsáveis pelo efeito de estufa. As calamidades naturais repetidas e de uma intensidade sem precedentes conhecidos – desde as repetidas cheias em Moçambique às chuvas torrenciais em Portugal e um pouco por toda a Europa, passando por secas mais intensas e prolongadas, furacões e tufões mais frequentes e devastadores e alterações dramáticas das correntes oceânicas – aí estão para nos fazer temer as consequências.
O efeito mais global e temível, que passa pelo degelo nos pólos e por uma subida do nível dos mares, é quase difícil de imaginar. Sabe-se que, mesmo com uma ligeira subida das águas, vários Estados insulares irão desaparecer e muitas zonas costeiras ou situadas junto à foz dos rios, precisamente aquelas em que se concentram grande parte das cidades e uma boa parte das principais actividades económicas, estão condenadas a ficar alagadas.
Durante o último século, o nível dos mares subiu entre 10 e 25 centímetros, devido à expansão térmica dos oceanos. Mas os cientistas calculam que poderá vir a subir, ao longo dos próximos cem anos, uma média de 5 centímetros por década; alguns cálculos sugerem mesmo que no final deste século a subida poderá ser de um metro.
A cadeia do clima é extremamente intricada. Veja-se: o aumento de temperatura já verificado nas regiões polares é responsável pela libertação dos gases que a camada de gelo do Árctico foi retendo ao longo de milénios, contribuindo assim para agravar o efeito de estufa; uma pequena alteração da temperatura da água dos oceanos tem efeitos imprevisíveis nas correntes, na deslocação dos cardumes, na vida marinha e também, de uma maneira geral, nas condições climáticas a que estão sujeitos os habitantes da Terra: uma ligeira subida basta para matar os recifes de coral e o sem-número de criaturas que deles dependem.
As alterações afectam todos os homens e todas as criaturas vivas, mas terão um impacto maior nos mais pobres e nas zonas já afectadas por condições climáticas extremas. A organização Christian Aid calcula que, no ano 2020, três quartos da população mundial enfrentarão a ameaça, ora de secas ora de cheias. Outra estimativa: os «refugiados ecológicos» poderão atingir os 25 milhões. Há que ter em conta que os mais pobres serão também aqueles que mais dificilmente se adaptarão às novas condições e a tudo aquilo que acarretam: o stress térmico, o alastramento das doenças tropicais propagadas por insectos, culturas agrícolas perdidas ou imprevisíveis, etc.
Os países ricos do Norte reagirão, naturalmente, melhor, embora o desastre lhes seja em grande parte atribuível: 80 por cento das emissões do dióxido de carbono que, ao longo dos últimos 150 anos, se foram acumulando na atmosfera são da sua inteira responsabilidade.


Dívida ecológica

Só em 1990 os governos começaram a discutir em conjunto com os cientistas o aquecimento global. Em 1992, na Cimeira da Terra do Rio de Janeiro, seria adoptada e posteriormente ratificada a Convenção Quadro das Alterações Climáticas. Em 1997 foi elaborado o Protocolo de Quioto, em que os países mais ricos se comprometem a reduzir as emissões de gases responsáveis pelo efeito de estufa em 5,2 por cento. Em Março deste ano, o Presidente George Bush afirmou que os EUA não iriam ratificá-lo, alegadamente para defender a economia norte-americana, a mais poderosa e a mais poluente do mundo.
Organizações, tanto dos países do Norte como dos países do Sul, têm vindo a insistir numa abordagem que não se limite ao controlo das emissões. Está neste momento em curso uma Campanha Internacional para o Reconhecimento e a Reivindicação da Dívida Ecológica. Entende-se por «dívida ecológica» a responsabilidade acumulada pelos países do Norte devido à destruição causada pelos seus sistemas de produção e pelos seus padrões de consumo, que se traduziria numa reparação devida aos países que, primeiro, foram espoliados das suas riquezas naturais e, depois, passaram a sofrer as consequências de um crescimento de que não usufruem.


Estado do Planeta

OCEANOS. Mais de dez mil milhões de toneladas de produtos poluentes espalham-se pelos oceanos sob a forma de sedimentos, detritos provenientes dos esgotos, fertilizantes, produtos químicos tóxicos, substâncias radioactivas, petróleo, etc. Em todo o mundo, a maior parte dos desperdícios são descarregados nas zonas costeiras, ou seja, nas áreas onde a actividade piscatória é mais intensa. Mais de 70 por cento das espécies acusam os efeitos de uma pesca desregrada e excessiva, que não permite a regeneração dos cardumes e algumas já entraram em colapso. Os produtos químicos tóxicos são detectáveis desde o Antárctico até ao Árctico. Os recifes de coral, ecossistemas de uma fragilidade extrema que dão abrigo a mais de 25 por cento da vida marinha, estão a ser destruídos a uma velocidade assustadora: se o ritmo se mantiver, dentro de quatro décadas 70 por cento terão desaparecido (até aqui já desapareceram 25 por cento).
ÁGUA. Quarenta por cento da população mundial não dispõem de água potável. Oitenta por cento das doenças que afectam os habitantes de dois terços do globo estão relacionadas com o estado da água e com o saneamento: mais de dois milhões, a maior parte crianças, morrem todos os anos devido a diarreias provocadas por essas deficiências. Quer se trate de água para beber, cozinhar ou lavar, um terço dos lares do mundo abastece-se numa fonte situada no exterior da casa, o que frequentemente obriga as mulheres e as meninas a percorrerem grandes distâncias para a obterem. Cada vez mais na mão de empresas privadas, o abastecimento está a tornar-se um negócio como outro qualquer: só no ano passado, na Bolívia, o preço da água potável subiu 36 por cento.
FLORESTAS TROPICAIS. As florestas tropicais são o mais antigo ecossistema do planeta e dão guarida a 60 por cento das espécies existentes na Terra: em metade do espaço ocupado por uma cidade como Lisboa, é possível encontrar 545 espécies de pássaros, 100 de libelinhas e 729 variedades de borboletas; na floresta de um país da dimensão da Costa Rica coexistem 205 tipos de mamíferos, 845 variedades de pássaros e dez mil de plantas; numa região montanhosa, só num hectare de floresta pode haver uma centena de diferentes espécies de árvores; a baía do Amazonas armazena dois terços da água da Terra, e em apenas 12 hectares de floresta amazónica é possível encontrar cerca de 300 espécies de árvores. As florestas tropicais asseguram entre 25 a 40 por cento dos produtos farmacêuticos; e preservam 70 por cento das três mil plantas que contêm substâncias capazes de combater o cancro; desde vários tipos de óleos à cera, à borracha e ao látex, são diversos os produtos industriais que nos fornecem. Pense-se no que já se perdeu: 80 por cento das florestas que em tempos cobriram a Terra já foram abatidas, e o seu corte provocou o extermínio de milhões de espécies. São as populações indígenas as mais afectadas pela destruição da floresta, uma vez que, quando esta desaparece, desaparece também a sua forma de sustento; quando são forçadas a partir, perde-se o seu precioso saber sobre as plantas e os animais que dela dependem.
BARRAGENS. Em vez de serem a solução milagrosa que em tempos se apregoava, as grandes barragens tiveram um pouco por todo o mundo um impacto ecológico e social frequentemente devastador. Porque cortaram e transformaram o curso dos grandes rios, levando ao desaparecimento de muitos peixes e plantas de água doce. Porque as suas albufeiras alagaram as terras mais férteis, que eram o habitat de muitas espécies. Porque entre 60 a 80 milhões de pessoas foram escorraçadas das suas casas e das suas terras, perdendo o seu sustento e engrossando as multidões obrigadas a deslocar-se para as cidades (só na Índia são 33 milhões). Porque se calcula que as suas vantagens beneficiem sobretudo os que já têm uma vida desafogada. Conscientes das suas desvantagens, os países industrializados já começaram a demolir parte das suas barragens. Porém, mais 1600 estão em construção, em 42 países.
SOLOS. Mais de 40 por cento dos terrenos agrícolas da Terra estão seriamente degradados. Vinte por cento dos terrenos correm perigo de virem a tornar-se desérticos: é o que acontece anualmente a 23 mil metros quadrados de terrenos férteis. A desertificação tem custos elevadíssimos – a nível ecológico, mas também social, económico e humano. O deserto progride sempre que a erva, os arbustos ou as árvores desaparecem, permitindo que a chuva e o vento levem a fina camada de solo arável. A erosão do solo causa um decréscimo na produção de alimentos.
BIODIVERSIDADE. Os paleontólogos identificaram seis extinções em massa, ocorridas ao longo dos últimos 500 milhões de anos; os peritos em biodiversidade dizem que estamos agora a assistir à sétima. Das 4630 espécies de mamíferos actualmente existentes, 25 por cento correm um significativo risco de extinção, e o mesmo se passa com 11 por cento das 9675 espécies de pássaros; 976 espécies de árvores correm um sério risco. Nas últimas décadas, desapareceram 20 por cento das espécies de água doce e calcula-se que, nos próximos 50 anos, o mesmo se passe com metade de todas as espécies existentes à face da Terra. Ao longo da História, para se alimentar, o Homem cultivou ou colheu sete mil espécies de plantas; hoje, apenas 20 fornecem 90 por cento do que consumimos. O milho, o trigo e o arroz são responsáveis por mais de metade.
EFEITO DE ESTUFA. Os gases responsáveis pelo efeito de estufa são poluentes que se acumulam na atmosfera, capturando, como numa estufa, o calor do Sol e acelerando o aquecimento global. A humanidade está a alterar a composição química da atmosfera através do consumo excessivo dos combustíveis de origem fóssil (carvão, petróleo, gás natural) utilizados para produzir electricidade, na indústria e nos transportes. Dos vários gases, um dos mais nocivos é o dióxido de carbono: a sua presença na atmosfera aumentou 30 por cento desde meados do século XIX, e calcula-se que, se nada for feito para cumprir os acordos internacionais que prevêem a sua redução, aumentará 60 por cento até 2040. A desflorestação, que liberta o carbono das árvores, é responsável por 20 por cento das emissões de carbono, um dos factores que favorecem as alterações climáticas. Desde a II Guerra Mundial, o número de veículos motorizados existentes no planeta – uma das grandes fontes de dióxido de carbono – passou de 40 para 680 milhões.
CAMADA DE OZONO. Os clorofluorcarbonetos (CFC) contribuem em 23 por cento para os gases que estão na origem do efeito de estufa, mas, ao mesmo tempo que causam o aquecimento global, provocam também a rarefacção da camada de ozono, que protege a Terra e os homens da agressão dos raios ultravioletas. Os CFC, libertados por uma parte dos aerossóis e por aparelhos de refrigeração (sistemas de ar condicionado ou frigoríficos), acumulam-se na atmosfera e estão a aumentar à média de sete por cento ao ano. A camada de ozono está a diminuir, mas não de forma uniforme: os maiores buracos encontram-se sobre os pólos. Os efeitos do aumento da radiação ultravioleta: mais cancros de pele; mais doenças de olhos; danos no sistema imunitário; colheitas menos abundantes e perturbações nos sistemas oceânicos.

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